quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

ENCONTRO DE DISCUSSÃO E PLANEJAMENTO SOBRE NOSSA AÇÃO COM CATADORES


“...Nessa marcha sem parar,
caminhar é resistir e se unir é reciclar.”
Hino do Movimento dos Catadores

Embalados e embaladas pela necessidade de união que nasce da resistência, nos encontramos entre os dias 13 e 14 de Janeiro para um primeiro encontro de discussão e planejamento das nossas ações com Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis no Vale do Jaguaribe. Estavam presente: Catadores e Catadoras, Cáritas Diocesana de Limoeiro do Norte, Associação Projeto Paz e União, NIT de Quixeré, Irmãs da Purificação do Bairro de Limoeiro Alto, Parceiros e Parceiras de caminhada de Russas e Limoeiro.
Foi um momento bonito de partilhar sonhos e desafios que a dura realidade da vida e do trabalho dos Catadores(as) de Materiais recicláveis revelam pra gente hoje. Foi um momento, sobretudo, de escuta atenta e acolhedora dos gritos desses homens e mulheres que desejam fazer ecoar por estes rincões do Vale do Jaguaribe direitos negados e sonhos enterrados e jogados fora, como o lixo dessa sociedade de consumo e do descarte.


Nos aproximamos desses gritos com muito respeito e, ao mesmo tempo, com nossos corações inquietos e revoltados. A situação dos Catadores de Materiais recicláveis do Vale revela uma realidade mais ampla e complexa de injustiça e negação de direitos fundamentais. Direito a Saúde, a educação, a assistência social, a lazer e esporte, direito a trabalho e renda, direito das crianças filhos(as) de Catadores de serem simplesmente crianças... Direito de uma sociedade realmente sustentável, respeito e cuidado com o meio ambiente... Como se não bastasse essa negação, nos deparamos com o descaso e falta de vontade política de cumprir seu papel de garantia de Políticas Públicas essenciais que contemple essa classe social dos Catadores(as) e as exigências que essa sociedade capitalista de consumos desenfreados nos coloca.

É gritante o apoio à mobilização juntamente com ações que promovam a garantia de direitos a partir da cobrança e exigência de Políticas Públicas fundamentais dos poderes públicos. Esses foram as bases fundamentais que nortearão (ou SULearão, como sugeriu nosso amigo e parceiro Pe. Júnior, que esteve presente e nos animando) as ações e atividades que acontecerão ao longo deste ano.

 
O encontro lançou sementes de esperança que desejamos, juntos com os Catadores(as) e Parceiros(as), ampliar para quem deseja se juntar a essa rede de solidariedade por um mundo de mais Justiça e Sustentabilidade. Junte-se a nós!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Mobilização e resistência: Por uma Copa do Mundo sem exclusão social e com respeito aos direitos dos/as brasileiros/as

Rogéria Araújo:Jornalista da Adital
FONTE: Adital
 

      Quando, no dia 30 de outubro de 2007, o Brasil foi anunciado oficialmente como país sede da Copa do Mundo 2014, jamais empresários, governadores e a própria Federação Internacional de Futebol (Fifa, por sua sigla em inglês) imaginaram que haveria tanto barulho pelas bandas de cá. É que a torcida verde-amarelo também soube dizer a que veio quando numa onda desenfreada de obras, infraestrutura e até mudanças em leis que ferem a Constituição brasileira se colocou em risco a cidadania, o direito de morar, de ir e vir das pessoas.
      E o que começou com algumas inquietações pontuais, dispersas nas 12 cidades que, então, vão sediar os jogos da Copa do Mundo, tomou forma e organização nacional, articulada em causas comuns, preparadas para outras mais específicas. Surgiram assim os Comitês Populares da Copa 2014, que congregam centenas de movimentos e organizações que passaram a questionar o preço que se pagará por um projeto desenvolvimentista e quem pagará por isso.
      Antes de tudo, os/as representantes dos Comitês e dos movimentos (que não necessariamente integram os Comitês) que estão à frente dessa luta deixam claro: ninguém é contra a realização do evento. Mas o evento precisa respeitar os direitos das populações.

Em Fortaleza

     Na capital do Ceará, a comunidade da Trilha do Senhor é um dos 22 locais que está sob ameaça de ser afetado por uma das obras estruturantes da Copa, o Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), que facilitará o trajeto dos milhares de turistas que circularão pela cidade durante o período até o Estádio Governador Plácido Castelo, o Castelão.
      Lá, Kássia Sales é moradora há 39 anos. Chegou com dois meses de nascida, junto com os pais. Militante do Movimento de Luta em Defesa da Moradia (MLDM), ela vê na resistência uma forma de afirmar a identidade do lugar e de afirmar o espaço como um ambiente social que deve ser respeitado em todos os seus níveis.
      A Trilha do Senhor existe há mais de 70 anos. Próximo a ela, existem outras 14 comunidades, todas serão diretamente afetadas pelo VLT que, pelos planos do Governo, terá 13 quilômetros de extensão e – com isso – deve atingir a 5 mil famílias que moram em torno do trilho e que estão sujeitas à remoção.
      A proposta dada pelo Governo para ressarcir as famílias que eventualmente serão despejadas seria de "um aluguel social” de R$ 200,00, quantia irrisória numa capital que tem um dos custos de vida mais altos do Brasil. Outra proposta é que alguns imóveis sejam comprados. "Mas os preços são absurdamente mais baixos do que valem as casas. Tem casas que estão estimadas em 80 ou 100 mil reais e o governo que dar 10 mil, 8 mil. Ninguém sabe qual a base que estão fazendo para terem esses cálculos”, relata.
      Para Kássia, mais do que passar por cima das casas, o projeto da Copa passa por cima da história e da cultura de milhares de famílias. "É como se para eles aqui não houvesse vida. Nós temos escolas, igreja, associações, trabalhos sociais, curso de balé, inglês, vamos ter teatro. Estamos encontrando nossa qualidade de vida da forma que nos é possível. Mas toda essa luta, todo esse histórico não é levado em consideração. Nós não somos contra o VLT, mas somos resistentes no sentido de dizer que para ter VLT não precisa ter remoção. O que se está fazendo é uma higienização, afastando os pobres para as margens”, denuncia.

Em Natal

      A questão das remoções foi um ponto forte de mobilização dos Comitês e dos movimentos organizados neste ano de 2011. Em Natal, capital do Rio Grande do Norte, segundo estimativas do Comitê local, cerca de 600 moradias podem ser afetadas diretamente por conta da construção de um viaduto.
      Rosa Pinheiro, arquiteta e integrante do Comitê Popular da Copa de Natal, afirma que além das possíveis remoções, a questão do impacto ambiental não está sendo levada em consideração nas obras para o mundial. As obras, acrescenta, poderão atingir áreas de mangue.
      Ela também fala sobre os valores destinados tanto ao estádio e às reformas do aeroporto. Com uma cidade cujo déficit habitacional chega a 24 mil casas, de acordo com programa habitacional da própria Prefeitura de Natal, os gastos com a construção de um novo estádio são considerados exorbitantes. O "Machadão” – como é conhecido o estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado – foi totalmente demolido para dar lugar ao Arena das Dunas, que engloba ainda um outro ginásio, o Machadinho. Teriam sido liberados, pelo BNDES, quase 400 milhões de reais.
      Rosa ressalta que este ano de 2011 foi mesmo de muita articulação e o resultado disso foi a criação da Associação dos Moradores Atingidos pelas Obras da Copa que reúne atualmente não só as famílias que estão em comunidades, mas também um núcleo classe média da cidade que resolveu se juntar.
"O que está em questão é que vários direitos básicos estão sendo violados. Existe ainda a questão da legalidade, da transparência e da legitimidade por qual está passando todo esse processo. Como cidadãos e cidadãs temos direitos, inclusive o direito de conhecer o que está sendo preparado”, disse.

Em Brasília

      "A gente não é contra a Copa. Mas a Copa tem que acontecer de uma forma que seja boa para o Brasil”. A fala é de Vitor Guimarães, integrante do Movimento dos/as Trabalhadores/as Sem Teto e membro do Comitê Popular da Copa Brasília e Distrito Federal.
      Brasília é um caso atípico. Sem tradição de futebol como Rio de Janeiro e São Paulo, além de outras, está incluída dentro das opções que abrigarão os jogos. Vitor questiona a necessidade de construir um estádio que, mais tarde, servirá como Centro de Convenções ou espaço para grandes shows. "Se fosse para construir um espaço assim sairia muito mais barato do que está orçado para a Copa do Mundo”, diz.
Orçado como um dos mais caros no país, o novo Estádio Nacional Mané Garrinha, terá um custo de mais de 900 milhões de reais. "Depois que terminar, o lugar vai ser usado para ser um centro, para abrigar grandes eventos, shows, as salas servirão de escritórios, de salas comerciais. Ou seja, é um custo absurdo que vai se ter para construir algo que no final não teria tanta necessidade. O dinheiro deveria ser destinado para a construção de casas para as pessoas que necessitam”, afirma.

2012 e a Lei Geral da Copa

      Previsto para ter acontecido na última semana de dezembro, o projeto da Lei Geral da Copa (LGC) teve sua votação adiada para 2012. Polêmico, o mecanismo promete ser o grande ponto de mobilização para o próximo ano por parte das entidades, movimentos e organizações, que consideram o adiamento uma vitória. Mas sabem que ainda há muito por se lutar. Da forma como está proposto, o projeto de Lei 2330/11 é considerado inconstitucional, pois fere direitos históricos e básicos conquistados pela cidadania brasileira e bastante claros em nossa Constituição.
      Descumprimento da meia entrada para estudantes; permissão para venda de bebidas alcoólicas; desrespeito ao Estatuto do Idoso; controle sobre qualquer produto que for vendido nos arredores dos estádios pela Fifa, que também lavará as mãos caso aconteça alguma acidente grave durante o evento mundial... Ou seja: durante o período da Copa 2014, quem governará o Brasil será a Federação.
"Em Brasília, começaremos 2012 tentando dialogar com os governos distrital e federal. Nossa maior mobilização vai se centrar para que a Lei Geral da Copa não passe do jeito que está, atropelando direitos históricos já conquistados pelo povo brasileiro. Uma Lei que foi feita para garantir o lucro da Fifa e dos empresários”, afirma Vitor Guimarães.
      Cláudia Fávaro, do Comitê Popular de Porto Alegre, informa que nos dias 21 e 22 de janeiro a Articulação Nacional dos Comitês Populares se reunirá na capital justamente para definir as ações de uma Frente que acompanhará todo este processo, propondo ações efetivas para que o projeto de Lei não seja aprovado com tantos desrespeitos aos direitos do povo brasileiro.
      "A ideia é que possamos apresentar emendas que mudem esse projeto. Ele [o projeto] é totalmente inconstitucional, viola nossos direitos e confere à Fifa poderes de governança que não podem ser aceitados”, enfatizou.

A Copa 2014

Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo serão as cidades sedes da Copa do Mundo em 2014.


terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cisternas de Plástico/PVC. Somos contra!

      A campanha lançada nacionalmente em novembro pela Articulação do Semiárido (Asa Brasil) tem o objetivo de alertar a sociedade brasileira sobre o impacto e efeitos negativos da disseminação de cisternas produzidas com plástico/PVC para o fortalecimento da estratégia de convivência com o Semiárido, no qual as organizações que fazem a articulação têm investido seus esforços nos últimos anos. A Cáritas Brasileira é uma das instituições que atuam junto a Asa Brasil.

      Desde o dia 1º de dezembro as ações estão sendo intensificadas nos estados com o intuito de fortalecer a campanha e atingir um maior número de adeptos. A perspectiva é que o último dia dessa mobilização seja marcada por ações em diferentes rádios do Semiárido. A ação ocorre até o próximo dia 15.

Vejam os materiais disponíveis para a campanha. Participe!

Cisterna de plástico dura menos do que a de placa

 por Myrlene Pareira, da Cáritas Diocesana de Araçuaí
 
      O sonho de ter água potável em casa, durante o ano todo, é algo que encanta muitas famílias do Semiárido brasileiro. Em Minas Gerais, algumas famílias como a de Seu Orcísio Martins da Costa e a de Dona Elândia Chaves Rodrigues conseguiram alcançar esse objetivo através das cisternas.  Porém, o resultado não foi o mesmo para eles devido à forma de construção e o material utilizado nos reservatórios.
      Elândia e seu esposo Derval Souza Prates moram na comunidade Limoeiro, na cidade de Itinga, um dos municípios que mais sofrem com a falta d’água no Vale do Jequitinhonha. Em 2003, a comunidade foi beneficiada com 22 cisternas de placas, com capacidade para captar 16 mil litros d’água da chuva, através do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC) da Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA).
      Segundo Elândia, para conquistar a cisterna, o primeiro passo foi se cadastrar no programa através da associação comunitária e do sindicato dos trabalhadores rurais. Na análise de perfil foi detectado que sua única fonte de água era o Rio Jequitinhonha, que fica a mais de 1 km de sua casa. Também foram analisados outros critérios para que a  agricultora recebesse a cisterna.
      Como contrapartida ela e sua família hospedaram e alimentaram os pedreiros, ajudando também no processo de construção. “Foi bem trabalhoso, mas valeu cada gota de suor porque eu tenho certeza que essa cisterna tem qualidade”, diz Elândia que após oito anos ainda não teve nenhum problema com a cisterna.
      Ela também sabe utilizar bem da água da cisterna, ensinamento que aprendeu nos dois dias do Curso de Gerenciamento de Recursos Hídricos (GRH) que participou quando foi selecionada no programa.  “Essa foi a melhor coisa que aconteceu por aqui nos últimos tempos”.
      Derval diz que hoje tem água suficiente para beber, cozinhar e fazer tarefas mínimas dentro de casa durante todo o período de estiagem. Para completar a felicidade, em 2009 a família foi agraciada com uma barragem subterrânea, através do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que fornece água para a produção de  alimentos.
Ele conta que, depois da chegada do P1MC na comunidade, a associação ficou muito mais organizada, pois trabalharam em mutirão para a construção das 22 cisternas, além de sempre se reunirem com o sindicato e a Comissão Municipal da ASA para ajudar outras comunidades a realizarem seu sonho.
      O agricultor também avalia que os cursos e a assessoria técnica oferecida pelo  P1MC e P1+2 foram de extrema importância para a melhoria de qualidade de vida na comunidade. Enquanto isso, Seu Orcísio espera pacientemente uma solução definitiva para seu problema. Ele tem participado ativamente da associação e do sindicato e diz que pensará duas vezes antes de receber novos projetos dos quais a comunidade não participe da construção.
      Já a história de Seu Orcísio, 64 anos, é bem diferente. Ele mora com a esposa e quatro filhos há 30 anos na comunidade Campo Queimado, que fica a 4 km da comunidade de Elândia. Há dois anos, depois de um longo período de estiagem, sua família recebeu a cisterna de plástico com capacidade para 8 mil litros, instalada pela Defesa Civil, através do Instituto de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene).
      Seu Orcísio conta como foi o processo para receber a cisterna: “Uma moça da prefeitura fez o cadastro e três meses depois chegou um rapaz  e, da parte da manhã até o meio-dia, [a cisterna] já estava pronta. Logo depois, a cisterna cedeu, mas o mesmo rapaz arrumou. Durante um ano tinha água aqui, que a gente usava pra beber e cozinhar, regrando muito. Mas aí veio a chuva e a terra em volta cedeu e a cisterna não aguentou também. Hoje ela só enche até a metade  e como não dá pra limpar, só usamos para dar de beber aos animais”.
      Ele acreditava que com a chegada da cisterna seu problema com água estava acabado, assim como para os seus vizinhos. Hoje ele se encontra triste por ver a cisterna e não ter condições de fazer nada. Outra preocupação é o perigo de ocorrência da dengue, pois após o desmoronamento da cisterna o material amontoado acumula água no período chuvoso.

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